DOUTRINA
ESPÍRITA - 159 ANOS
Como singela
homenagem e com profunda gratidão a Deus, ao Espírito de Verdade, a Allan
Kardec e aos Espíritos superiores que proporcionaram à Terra o Consolador, como
Ciência e Filosofia moral, compartilhamos com os assinantes do IPEAK o seguinte
texto que o Mestre publicou na Revista
Espírita de janeiro de 1858:
O LIVRO DOS ESPÍRITOS
CONTENDO
OS PRINCÍPIOS DA DOUTRINA ESPÍRITA
Sobre a natureza do
mundo incorpóreo, suas manifestações e suas relações com os homens; as leis
morais, a vida presente, a vida futura e o futuro da Humanidade.
ESCRITO
DE ACORDO COM O DITADO E PUBLICADO POR ORDEM DOS ESPÍRITOS SUPERIORES
Por
Allan Kardec
Como o indica o
título, esta obra não é uma doutrina pessoal: é o resultado do ensino direto
dos próprios Espíritos sobre os mistérios do mundo onde estaremos um dia e
sobre todas as questões que interessam à Humanidade; eles nos dão de algum modo
um código de vida, traçando-nos a rota da felicidade porvindoura. Como este
livro não é fruto de nossas ideias, pois sobre muitos pontos importantes
tínhamos uma maneira de ver bem diversa, nossa modéstia nada teria a sofrer com
elogios. Preferimos, entretanto, deixar que falem os que estão inteiramente
desinteressados por esta questão.
Sobre este livro, o Courrier de Paris, de 11 de junho de 1857, estampou o
seguinte artigo:
A
DOUTRINA ESPÍRITA
Faz pouco tempo
publicou o editor Dentu uma obra deveras notável, diríamos mesmo muito curiosa,
se não houvesse coisas às quais repugna qualquer classificação banal.
O Livro dos Espíritos, do Sr. Allan Kardec, é uma página
nova do próprio grande livro do infinito e, estamos persuadidos, uma marca será
posta nessa página. Seria lamentável que pensassem estarmos aqui a fazer
reclame bibliográfico: se tal se pudesse admitir, preferiríamos quebrar a pena.
Não conhecemos absolutamente o autor, mas proclamamos bem alto que gostaríamos
de conhecê-lo. Quem escreveu aquela introdução que abre OLivro dos Espíritos deve ter a alma aberta a todos os
sentimentos nobres.
Aliás, para que não
se ponha em dúvida a nossa boa-fé e nos acusem de partidarismo, diremos com
toda a sinceridade que jamais fizemos um estudo aprofundado das questões
sobrenaturais. Apenas, se os fatos produzidos nos causaram admiração, pelo
menos não nos levaram a dar de ombros. Somos um pouco da classe chamada dos
sonhadores, porque não pensamos como todo mundo. A vinte léguas de Paris, ao
cair da tarde, quando em nossa volta tínhamos apenas algumas cabanas esparsas,
pensamos naturalmente em coisas muito diversas da Bolsa, do macadame dos
bulevares ou nas corridas de Longchamp. Muitas vezes nos interrogávamos e,
durante muito tempo, antes de ter ouvido falar em médiuns, a respeito do que se
passava nas regiões que se convencionou chamar o Alto. Há tempos chegamos mesmo
a esboçar uma teoria sobre os mundos invisíveis, guardando-a ciosamente para
nós e nos sentimos muito felizes porque a encontramos, quase que por inteiro,
no livro do Sr. Allan Kardec.
A todos os
deserdados da Terra; a todos quantos marcham e que, nas suas quedas, regam com
as lágrimas o pó da estrada, diremos: Lede o Livro
dos Espíritos. Ele vos
tornará mais fortes. Também aos felizes, aos que pelo caminho só encontram as
aclamações e os sorrisos da fortuna, diremos: Estudai-o e ele vos tornará
melhores.
O corpo da obra, diz
o Sr. Allan Kardec, deve ser atribuído inteiramente aos Espíritos que o
ditaram. Está admiravelmente dividido no sistema de perguntas e respostas. Por
vezes estas últimas são sublimes, o que não nos surpreende. Mas não foi
necessário um grande mérito a quem soube provocá-las?
Desafiamos os mais
incrédulos a rir quando lerem esse livro em silêncio e na solidão. Todos
honrarão aquele que lhe escreveu o prefácio.
A doutrina se resume
em duas palavras: Não façais aos outros o que não quereis
que vos façam. Lamentamos que
o Sr. Allan Kardec não tivesse acrescentado: e
fazei aos outros como quereríeis que vos fizessem. Aliás, o livro o diz claramente,
sem o que a doutrina não seria completa. Não basta não fazer o mal; é preciso
ainda que se faça o bem. Se fores apenas homem de bem, só terás cumprido a
metade do dever. Sois um átomo imperceptível desta grande máquina chamada
mundo, na qual nada é inútil. Não nos digam que é possível ser útil sem fazer o
bem. Seríamos forçados a escrever um livro para responder.
Lendo as admiráveis
respostas dos Espíritos na obra do Sr. Kardec, dissemos a nós mesmo que havia
um belo livro a escrever. Logo verificamos, entretanto, o nosso engano. O livro
já está escrito. Procurando completá-lo, apenas o estragaríamos.
O senhor é homem de
estudo e tem aquela boa-fé que apenas necessita instruir-se? Então leia o Livro
Primeiro sobre a Doutrina Espírita.
O senhor está na
classe das criaturas que apenas se ocupam consigo mesmas e que, como se costuma
dizer, fazem os seus negócios muito tranquilamente e nada enxergam além dos
próprios interesses? Leia as Leis
Morais.
A desgraça o
persegue encarniçadamente e a dúvida o tortura por vezes no seu abraço gelado?
Estude o terceiro livro: Esperanças
e Consolações.
Todos quantos
aninham pensamentos nobres no coração e acreditam no bem, leiam o livro da
primeira à última página.
Aos que encontrassem
ali matéria para zombarias, o nosso sincero lamento.
G.
DU CHALARD.
Das numerosas cartas
que nos têm sido dirigidas desde a publicação do Livro dos Espíritos,citaremos
apenas duas, porque, de certo modo, resumem a impressão produzida pelo livro e
o fim essencialmente moral dos princípios que o mesmo encerra.
Bordeaux, 25 de
abril de 1857.
Senhor,
V. Sª. submeteu
minha paciência a uma grande prova, pelo retardamento da publicação doLivro
dos Espíritos, há tanto tempo anunciado.
Felizmente não perdi com a espera, porque ele ultrapassa toda a ideia que eu
havia feito, baseado no prospecto. Impossível descrever o efeito em mim
produzido. Sinto-me como um homem que saiu da escuridão. Parece-me que uma
porta, até hoje fechada, abriu-se subitamente e minhas ideias ampliaram-se em
poucas horas! Oh! Quanto a Humanidade e todas essas miseráveis preocupações me
parecem mesquinhas e pueris ao lado desse futuro de que não duvidava, mas que
me era de tal modo obscurecido pelos preconceitos, que eu apenas o imaginava!
Graças ao ensino dos Espíritos, agora ele se me apresenta sob uma forma
definida, perceptível, mas grande, bela, e em harmonia com a majestade do Criador.
Quem quer que leia
esse livro meditando, como eu, nele encontrará inesgotável tesouro de
consolações, pois que ele abarca todas as fases da existência. Em minha vida
sofri perdas que me afetaram vivamente; hoje não me causam nenhum desgosto e
toda a minha preocupação é empregar utilmente o tempo e minhas faculdades para
acelerar meu progresso, pois agora para mim o bem tem uma finalidade e
compreendo que uma vida inútil é uma vida egoística, que não nos ajudará a
avançar na vida futura.
Se todos os homens
que pensam como eu e como o senhor, e que são muitos, ao que espero, para honra
da Humanidade, pudessem entender-se, reunir-se e trabalhar de comum acordo, que
poder não teriam para apressar essa regeneração que nos é anunciada!
Quando eu for a Paris
terei a honra de procurá-lo e, se não for abusar do seu tempo, pedir-lhe-ei
mais explicações sobre certos trechos e alguns conselhos sobre a aplicação das
leis morais em certas circunstâncias que me são pessoais.
Receba, senhor, a
expressão de todo o meu reconhecimento, porque o senhor me proporcionou um
grande bem, mostrando-me o único caminho da felicidade real neste mundo e,
quiçá, além disso, um lugar melhor no outro.
Seu
dedicado,
D...
Capitão
reformado
Lyon, 4 de julho de
1857.
Senhor,
Não sei como lhe
exprimir o meu reconhecimento pela publicação do Livro dos Espíritos, que acabo de reler. Como tudo
quanto o senhor nos ensina é consolador para a nossa pobre Humanidade! Por mim
confesso que me sinto mais forte e mais encorajado para suportar as penas e os
aborrecimentos ligados à minha pobre existência.
Faço muitos amigos
meus partilharem das convicções adquiridas na leitura de sua obra: todos se
sentem muito felizes; compreendem agora as desigualdades das posições sociais e
não murmuram contra a Providência; a esperança
fundamentada num futuro mais feliz, desde que bem se conduzam, os conforta e
lhes dá coragem.
Queria eu, senhor,
ser-lhe útil. Sou um simples filho do povo, que se criou numa posição
insignificante pelo trabalho, mas a quem falta instrução, pois fui obrigado a
trabalhar desde menino. Entretanto, sempre amei a Deus e fiz tudo quanto era
possível para ser útil aos meus semelhantes. Eis por que procuro tudo que possa
aumentar a felicidade de meus irmãos. Vamos nos reunir, diversos adeptos
esparsos, e faremos esforços para ajudá-lo. O senhor levantou a bandeira e
nossa obrigação é segui-lo. Contamos com o seu apoio e os seus conselhos.
Subscrevo-me,
senhor, se me permite chamá-lo de confrade, seu dedicado
C...
Muitas vezes nos
foram dirigidas perguntas sobre a maneira por que foram obtidas as comunicações
que constituem o Livro dos
Espíritos. Resumimos aqui,
com muito prazer, as respostas que temos dado a tais perguntas. É uma
oportunidade para resgatarmos uma dívida de gratidão para com as pessoas que
tiveram a boa vontade de nos prestar o seu concurso.
Como explicamos, as
comunicações por meio de batidas, outrora chamadas tiptologia, são muito lentas
e muito incompletas para um trabalho de fôlego, por isso tal recurso jamais foi
utilizado. Tudo foi obtido pela escrita, por intermédio de diversos médiuns
psicógrafos. Nós mesmos preparamos as perguntas e coordenamos o conjunto da
obra. As respostas são, textualmente, as que nos deram os Espíritos. A maior
parte delas foi escrita sob nossas vistas, outras foram tiradas de comunicações
que nos foram remetidas por correspondentes ou que colhemos aqui e ali, onde
estivemos fazendo estudos. Parece que para isso os Espíritos multiplicam aos
nossos olhos os motivos de observação.
Os primeiros médiuns
que concorreram para o nosso trabalho foram as senhoritas B..., cuja boa
vontade jamais nos faltou. O livro foi quase todo escrito por seu intermédio e
em presença de numeroso público que assistia às sessões, nas quais tinha o mais
vivo interesse. Mais tarde os Espíritos recomendaram uma revisão completa em
sessões particulares, tendo-se feito, então, todas as adições e correções que
eles julgaram necessárias. Esta parte essencial do trabalho foi feita com o concurso
da Senhorita Japhet[1], a qual se prestou com a melhor boa vontade e o mais completo
desinteresse a todas as exigências dos Espíritos, porque eram eles que marcavam
dia e hora para suas lições. O desinteresse não seria aqui um mérito especial,
desde que os Espíritos reprovam qualquer tráfico que se possa fazer da sua
presença, mas a Senhorita Japhet, que é também uma notável sonâmbula, tinha seu
tempo utilmente empregado, mas compreendeu que também lhe daria uma aplicação
proveitosa ao se consagrar à propagação da doutrina.
Quanto a nós, já
declaramos desde o princípio, e temos a satisfação de reafirmar agora, jamais
pensamos em fazer do Livro dos
Espíritos objeto de
especulação. Seu produto será aplicado a coisas de utilidade geral. Por isso
seremos sempre gratos aos que, de coração e por amor ao bem, se associaram à
obra a que nos consagramos.
ALLAN
KARDEC[2]
[1] Rua Tiquetonne, 14.
[2] Paris. Tipografia de Cosson & Cia., Rua do
Four-Saint-Germain, 43.
Nenhum comentário:
Postar um comentário