Jan Huss: 600 anos de desencarnação
Enrique Eliseo Baldovino
henriquedefoz@uol.com.br
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No dia
6 de julho de 1415 foi queimado vivo, em Constança (Germânia, futura Alemanha),
o mártir Jan Huss, célebre pensador, sacerdote e reformador tcheco, nascido no
ano de 1369,1 em Husinec ou Hussinecz, reino da Boêmia (hoje República Tcheca),
reino que, à época, formava parte do Sacro Império Romano-Germânico.
O
precursor da Reforma nasceu sob o reinado do imperador Carlos IV e sob o
pontifi cado de Gregório XI, alguns anos antes do grande cisma do Ocidente, que
se pode encarar como uma das sementes do hussitismo. Segundo o costume da Idade
Média, Jan Huss, foi assim chamado porque nasceu em Hussinecz, pequeno burgo
situado ao sul da Boêmia, no distrito de Prachen, nas fronteiras da Baviera.
Filho
de pais camponeses, Jan Huss completou o seu curso na Universidade de Praga,
onde se formou em Teologia (1394), em Artes (1396) e em Filosofi a (1396),
fazendo-se bastante conceituado nos meios universitários. Como escritor, deu também
sua grande contruibuição na fi xação da ortografi a e na reforma da língua
literária tcheca.
Alguns
livros de sua autoria, que sobreviveram até os nossos dias, nos idiomas latim,
francês, tcheco e inglês são, entre outros: Questio de indulgentiis (1412),
Explication de la foi (1412), De ecclesia (1413), Explication des saints
évangiles (1413), Ortografie Česká (1857), The letters of John Hus (1904) etc.
Seguidor
do reformador John Wycliffe Huss foi ordenado sacerdote em 1400 e, no ano
seguinte, ocupou o cargo de reitor da Universidade de Praga, quando se
aproximou da obra do reformador inglês John Wycliffe (c.1328-1384), passando a
considerar-se teologicamente seu discípulo, juntamente com Jerônimo de Praga
(1379-1416), seguidor de Huss. Em 1401, tornou-se pregador da capela de Belém,
em Praga (capital do reino da Boêmia), e tinha o apoio do arcebispo. Jan Huss
foi confessor da rainha Sofia (1376-1425), esposa do rei Venceslau.
Huss,
como Wycliffe, não aceitava a supremacia papal, mas apenas a pessoa do Cristo –
e não Pedro – como chefe e cabeça da Igreja, considerando o Evangelho “única
lei”. Seu pensamento sobre a Igreja era influenciado fortemente por Agostinho e
tinha, a respeito do clero e sua relação com a propriedade, pontos de vista
semelhantes aos dos valdenses. (Sobre os valdenses, leia-se A caminho da luz, o
item As advertências de Jesus, cap. 18, livro ditado pelo Espírito Emmanuel ao
médium Chico Xavier, Editora FEB.)
As
críticas de Jan Huss ao clero foram aos poucos evidenciando sua simpatia para
com a doutrina de Wycliffe (que traduziu a Bíblia para o seu idioma nacional, a
fim de pô-la ao alcance do povo), e a oposição cresceu contra Huss, sendo ele
excomungado em 1410. O resultado disso foi um grande tumulto popular em Praga,
quando Huss, com o apoio do rei Venceslau (1361-1419) e do povo, foi festejado
como patriota e herói nacional, por ser contrário ao tráfico das indulgências,
à política guerreira do Papa e à sua infalibilidade. Novamente excomungado,
teve que se afastar de Praga.
A despeito
das garantias de um salvo-conduto para comparecer ao Concílio de Constança
(1414), foi encarcerado por vários meses numa prisão infecta, sendo condenado e
queimado vivo nessa cidade, onde enfrentou a morte com grande coragem, tendo
sido humilhado antes com o despojamento das vestes sacerdotais, tão logo lhe
puseram na cabeça uma coroa ridícula de papel, onde escreveram a injuriosa
alcunha de “heresiarca”.
Huss
ainda vivia quando os seus livros foram queimados, perpetrando-se um triste
auto-de-fé de suas obras (em 9/10/1861 fizeram o mesmo com os livros de Kardec,
no Auto-de-fé de Barcelona, mas não conseguiram queimá-lo vivo!), as quais
foram publicadas, postumamente, primeiro em Nuremberg, em 1558, e séculos
depois em Praga (1903-1908, Obras completas do mestre Jan Huss), em oito
volumes.
Naqueles
tempos de grande intolerância, Jan Huss foi considerado o 1º mártir da
liberdade religiosa, dezesseis anos antes que a heroína francesa Joana d’Arc
(1412-1431) fosse queimada viva por essa mesma intolerância religiosa, e mais
de cem anos antes que outro célebre reformador, o teólogo alemão Martinho
Lutero (1483-1546), apresentasse suas 95 Teses, em 1517.
Os hussitas
Os
seguidores de Jan Huss foram os hussitas, que tentaram impor ao país as
doutrinas do reformador, combinando-as com um sentimento de forte nacionalismo
tcheco, antialemão. Além da morte de Huss, que provocou ressentimentos e
revoltas na Boêmia, mais dois fatores influíram na revolução que convulsionou o
país: a proibição de que o povo tcheco exercesse o culto religioso, segundo
suas próprias crenças e o martírio na fogueira de Jerônimo de Praga
(30/5/1416), fiel discípulo de Huss.
Jan
Huss também é considerado um precursor da Reforma protestante. Os hussitas
aliaram-se aos luteranos no século XVI. A rebelião de 1618 dos hussitas contra
a dinastia dos Habsburgos católicos deu início à Guerra dos Trinta Anos, sendo
a Boêmia recatolicizada depois de sua derrota (1621). Os tchecos, porém,
permaneceram nacionalistas e anticlericais – o que foi decisivo na luta secular
que travaram contra os Habsburgos católicos e na conquista da sua
independência, em 1918.
Jan Huss e Allan Kardec
Segundo
o distinto pesquisador espírita Canuto Abreu, a notícia de Jan Huss ter
reencarnado como Allan Kardec veio em 1857, através da psicografia da médium
Ermance Dufaux.2 Notemos, assim, a modéstia e a humildade de Kardec, que nunca
se referiu em vida a este fato. A preciosa fonte dessa notável informação
estava, em 1921, na Livraria de Leymarie, onde o Dr. Canuto a copiara. Em 1925,
passou para o arquivo da Maison des Spirites, tendo sido destruída pelos
alemães em 1940 durante a invasão de Paris.
Sim,
esta profunda revelação é digna de destaque: o ilustre codificador Allan Kardec
foi a reencarnação do pregador Jan Huss, mártir da fé e reformador da língua do
seu país, como lexicógrafo emérito, sendo igualmente um eminente tradutor ao
idioma tcheco. O paralelo entre as duas personalidades é realmente notável.
Observemos também o período exato de 500 anos entre a data de nascimento de
Huss e a de desencarnação de Kardec.
Como
professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, o futuro Allan Kardec, além de
preclaro educador, foi também tradutor de livros para diferentes idiomas, entre
os quais se destaca: Les trois premiers livres de Télémaque en allemand (Paris:
Bobée et Hingray Éditeurs, 1830), como oportunamente escrevemos nas páginas de
Reformador.³
Como
Kardec, foi o grande codificador da Doutrina dos Espíritos, que plasmou, de
forma missionária, os elementos da emancipação e regeneração da humanidade. O
mesmo Espírito, na sua autêntica vivência cristã em ambas as personalidades,
teve grande intimidade com a mensagem de Jesus e o Novo Testamento, sendo o
Espiritismo, desse modo, o Cristianismo Redivivo.
Há
vários séculos, portanto, que esse Espírito de escol, além de se destacar por
alavancar o progresso geral da Terra, vem se doando através do martírio, no
generoso auxílio a todos pela vivência das elevadas propostas filosóficas,
científicas e religiosas, em nome de Jesus, abordando também, em vida, as
questões ortográfico-gramaticais e o importante quesito das traduções, com a
mestria que lhe é peculiar.
A mensagem do Espírito Jan Huss
Lemos,
na Revista Espírita de setembro de 1869, o artigo Precursores do Espiritismo –
Jan Huss, uma comunicação mediúnica desse Espírito elevado, datada de 14 de
agosto de 1869 e ditada em Paris,4 após ter sido evocado por um dos médiuns da
Société Parisienne des Études Spirites.
Os
continuadores de Kardec na direção da Revue Spirite registraram o seguinte,
antes de transcrever a mensagem do Espírito Huss e depois de terem publicado
algumas notícias biográficas dele, por ocasião das comemorações dos 500 anos de
nascimento do grande reformador (1369-1869), notícias seguidas por uma
instrução do Espírito Allan Kardec (três dias depois, em 17/8/1869), de
relevante importância doutrinária:
Evocado
por um de nossos médiuns, o Espírito Jan Huss deu a seguinte comunicação, que
nos apressamos em mostrar aos nossos leitores, bem como uma instrução do Sr.
Allan Kardec sobre o mesmo assunto, porque nos parecem bem caracterizar a
natureza do homem eminente, que se ocupou com tanto ardor, desde o século
quinze, a preparar os elementos da emancipação e da regeneração filosóficos da
humanidade.4
(Paris,
14 de agosto de 1869)
A
opinião dos homens pode dispersar-se momentaneamente, mas a justiça de
Deus, eterna e imutável, sabe recompensar, quando a justiça humana castiga
perdida pela iniquidade e pelo interesse pessoal. Apenas cinco séculos – um
segundo na eternidade – se passaram desde o nascimento do obscuro e modesto
trabalhador e já a glória humana, à qual ele não se prende mais, substituiu a
sentença infamante e a morte ignominiosa, incapazes de abalar a firmeza de suas
convicções.4
Como és
grande, meu Deus, e como é infinita a tua sabedoria! Sob o teu sopro poderoso
minha morte tornou-se um instrumento de progresso. A mão que me feriu alcançou,
com o mesmo golpe, os terríveis erros seculares de que se encharcou o espírito
humano. Minha voz encontrou eco nos corações indignados pela injustiça de meus
algozes, e meu sangue, derramado como um orvalho benfazejo sobre um solo
generoso, fecundou e desenvolveu nos espíritos adiantados de meu tempo os
princípios da eterna verdade. Eles compreenderam, refletiram, analisaram,
trabalharam e, sobre bases informes, rudimentares das primeiras crenças
liberais, edificaram, na sucessão das eras, doutrinas filosóficas
verdadeiramente generosas, profundamente religiosas e eternamente progressivas.
[…]4 (Grifos nossos.)
E, mais
adiante, o mesmo Espírito Huss continua sua profunda mensagem, fazendo um
paralelo entre suas antigas crenças – que defendeu com heroísmo até sua morte
na fogueira –, com as verdades novas, descobertas como Espírito imortal:
Aos que
me pediam uma retratação, respondi que só renunciaria às minhas crenças diante
de uma doutrina mais completa, mais satisfatória, mais verdadeira. Pois bem!
desde esse tempo meu Espírito se engrandeceu; encontrei algo melhor do que
havia conquistado e, fiel aos meus princípios, repeli sucessivamente o que
minhas antigas convicções tinham de errôneo, para acolher as verdades novas,
mais largas, mais consentâneas com a ideia que eu fazia da natureza e dos
atributos de Deus. Espírito, progredi no espaço; voltando à Terra, progredi
também. Hoje, voltando novamente à pátria das almas, estou na fila da frente ao
lado de todos os que, sob este ou aquele nome, marcham sincera e ativamente
para a verdade e se dedicam, de coração e de espírito, ao desenvolvimento
progressivo do espírito humano.4
Obrigado
a todos os que reverenciam em minha personalidade terrestre a memória de um
defensor da verdade; obrigado, sobretudo, aos que sabem que, acima do homem há
o Espírito, libertado pela morte dos entraves materiais, a inteligência livre
que trabalha de acordo com as inteligências exiladas, a alma que gravita
incessantemente para o centro de atração de todas as criações: o infinito,
Deus! Jan Huss 4 (Grifos nossos.)
A mensagem do Espírito Allan Kardec
Logo
após a comunicação do Espírito Jan Huss, os continuadores do codificador
transcreveram a mensagem do Espírito Allan Kardec,5 da qual registramos somente
alguns trechos, deixando aos leitores o cuidado de a estudarem de modo mais
aprofundado, ao compulsarem diretamente as páginas históricas da Revista
Espírita:
(Paris,
17 de agosto de 1869)
[…] – A
tribo, ou se quiserdes, a nação, o universo avançam em idade e as balizas se
multiplicam, semeando aqui e ali os princípios de verdade e de justiça que
serão a partilha das gerações que chegam. Essas balizas esparsas são os
precursores; eles semeiam uma ideia, desenvolvem-na durante sua vida terrena,
vigiam-na e a protegem no estado de Espírito, e voltam periodicamente através
dos séculos para trazerem seu concurso e sua atividade ao seu desenvolvimento.
Tal foi
Jan Huss e tantos outros precursores da filosofia espírita. […]
Jan
Huss encontrou no Espiritismo uma crença mais completa, mais satisfatória que
suas doutrinas e o aceitou sem restrição. – Como ele, eu disse aos meus adversários
e contraditores: “Fazei algo melhor e me reunirei a vós.”5
O
progresso é a eterna lei dos mundos, mas jamais seremos ultrapassados por ele,
porque, do mesmo modo que Jan Huss, sempre aceitaremos como nossos os
princípios novos, lógicos e verdadeiros que cabe ao futuro nos revelar. Allan
Kardec (Grifos nossos.)5
Precursor da filosofia espírita
O
respeito de Kardec por Huss já era grande (chegou a chamá-lo “um dos
precursores da filosofia espírita”), apesar de essa admiração ser silenciosa e
discreta, desde a sua encarnação como codificador, conforme podemos constatar
nas páginas da Revista Espírita de dezembro de 1868, item V, intitulado
Comissão Central,6 ao ser abordada a Constituição transitória do Espiritismo,
quando o mestre de Lyon registrou para a posteridade:
Às
atribuições gerais da comissão serão anexados, como dependências locais:
1º –
Uma biblioteca, onde se encontrem reunidas todas as obras que interessem ao
Espiritismo e que possam ser consultadas no local, ou cedidas para leitura
fora;
2º – Um
museu, onde se achem colecionadas as primeiras obras de arte espírita, os
trabalhos mediúnicos mais notáveis, os retratos dos adeptos a quem a causa
muito deva pelo devotamento que tenham demonstrado, os dos homens a quem o
Espiritismo renda homenagem, embora estranhos à Doutrina, como benfeitores da
humanidade, grandes gênios missionários do progresso etc. […] 6 (Grifos dos
originais.)
Neste
ponto Kardec coloca a seguinte Nota de sua autoria, que visa esclarecer os
belos objetos de arte que já faziam parte do futuro museu do Espiritismo:
O
futuro museu já possui oito quadros de grande dimensão, que só esperam um local
conveniente; verdadeiras obras-primas, especialmente executadas em vista do
Espiritismo, por um artista de renome, que generosamente os doou à Doutrina. É
a inauguração da arte espírita, por um homem que alia à fé sincera o talento
dos grandes mestres. Em tempo hábil faremos a sua descrição detalhada. (Grifos
nossos.)
Após a
desencarnação de Allan Kardec, os seus continuadores na Revue Spirite revelaram
finalmente o nome desses quadros,7 bem como o do artista de renome (o Sr.
Monvoisin) que os executou:
Estes
oito quadros compreendem: o retrato alegórico do Sr. Allan Kardec; o Retrato do
autor; três cenas espíritas da vida de Joana d’Arc, assim designadas: Joana na
fonte, Joana ferida e Joana sobre a sua fogueira; o Auto-de-fé de Jan Huss; um
quadro simbólico das Três Revelações e a Aparição de Jesus entre os apóstolos,
após sua morte corporal. […] (Destaque nosso.)
Jesus, João Huss e Allan Kardec
Em
belíssima mensagem que se encontra em Reformador de setembro de 1978,8 o
Espírito Humberto de Campos, através do mediunato de Chico Xavier, registra o
momento sublime em que Jesus se dirige a Jan Huss, antes de reencarnar como
Allan Kardec, numa assembleia de Espíritos elevados, no plano espiritual,
planejando o século XIX sob as diretrizes do Cristo:
Depois
de se dirigir aos numerosos missionários da Ciência e da Filosofia, destinados
à renovação do pensamento do mundo no século XIX, o Mestre aproximou-se do
abnegado Jan Huss e falou, generosamente:
Não
serás portador de invenções novas, não te deterás no problema de comodidade
material à civilização, nem receberás a mordomia do dinheiro ou da autoridade
temporal, mas deponho-te nas mãos a tarefa sublime de levantar corações e
consciências.
A
assembleia de orientadores das atividades terrestres estava comovida. E ao
passo que o antigo campeão da verdade e do bem se sentia alarmado de santas
emoções, Jesus continuava: […]
É
indispensável estabelecer providências que amparem a fé, preservando os
tesouros religiosos da criatura. Confio-te a sublime tarefa de reacender as
lâmpadas da esperança no coração da humanidade.
O
Evangelho do Amor permanece eclipsado no jogo de ambições desmedidas dos homens
viciosos!… Vai, meu amigo. Abrirás novos caminhos à sagrada aspiração das
almas, descerrando a pesada cortina de sombras que vem absorvendo a mente
humana. Na restauração da verdade, no entanto, não esperes os louros do mundo,
nem a compreensão dos teus contemporâneos. […]
Ante a
emoção dos trabalhadores do progresso cultural do orbe terreno, o abnegado Jan
Huss recebeu a elevada missão que lhe era conferida, revelando a nobreza do
servo fiel, entre júbilos de reconhecimento.
Daí a
algum tempo, no albor do século XIX, nascia Allan Kardec em Lyon, por trazer a
divina mensagem.
Espírito
devotado, jamais olvidou o compromisso sublime. […]
[…] Ao
fim da laboriosa tarefa, o trabalhador fiel triunfara.
Em
breve, a doutrina consoladora dos Espíritos iluminava corações e consciências,
nos mais diversos pontos do globo. […] Allan Kardec não somente pregou a
doutrina consoladora; viveu-a. Não foi um simples codificador de princípios,
mas um fiel servidor de Jesus e dos homens. (Grifos nossos em todos os
parágrafos.)
Homenagem e conclusão
Honra,
pois, a esse Espírito de escol, seja na roupagem de Allan Kardec ou na de Jan
Huss (o vocábulo Huss significa, em tcheco, pato ou ganso). Acerca deste último
vulto lembramos com gratidão os 600 anos do seu martírio, em prol da Verdade,
homenageando-o e recordando as palavras emocionadas do mártir ao ser queimado
vivo na fogueira de Constança, o qual reencarnará como Allan Kardec, o célebre
codificador da Doutrina Espírita: “Hoje assais um pato, mas dia virá em que o
cisne de luz voará tão alto que vossas labaredas não mais o alcançarão”.
Depois
de dizer essas proféticas palavras, as chamas ardem e lhe cobrem o corpo. O
valente pregador tcheco implora perdão pelo ato infame dos seus inimigos e
continua orando a Deus, entregando-se a Ele de corpo e alma. Queimaram o seu
corpo, mas não as suas ideias, pelas quais lutava o bom combate para reformar
profundamente os maus costumes e os abusos eclesiásticos; também não
conseguiram queimar o Ideal Superior que o guiou na procura e defesa da
Verdade.
O local
da sua morte é marcado até hoje com uma pedra memorial; suas cinzas foram
atiradas nas águas do rio Reno, e na praça central de Praga erigiram, em sua
homenagem, uma imponente estátua, monumento impressionante que faz jus à sua
Vida e Obra, a fim de perpetuar-lhe o legado e a memória através dos tempos.
Ninguém mais se lembra dos seus algozes… Jan Huss vive e viverá para sempre no
sentimento coletivo da humanidade, como verdadeiro símbolo do início de uma
Nova Era.
REFERÊNCIAS:
1
ENCICLOPÉDIA Mirador Internacional. Encyclopædia Britannica do Brasil. São
Paulo e Rio de Janeiro, 1989. 20 volumes. 11.565 p., ilus. Editor: Antonio
Houaiss. HUS (Jan), v. XI, p. 5.915.
2
IMBASSAHY, Carlos. A missão de Allan Kardec. 2. ed. Curitiba, PR: FEP, 1988.
pt. I, cap. João Huss, p. 43.
3
BALDOVINO, Enrique Eliseo. O professor Rivail também foi tradutor. Reformador,
ano 125, n. 2.139, p. 39(245)- 40(246), jun. 2007.
4
KARDEC, Allan. Revista espírita: jornal de estudos psicológicos. ano 12, n. 9,
p. 372-374, set. 1869. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. Rio de Janeiro:
FEB, 2009. Precursores do Espiritismo – Jan Huss.
5 ____.
____. Mensagem do Espírito Allan Kardec, p. 374-375.
6 ____.
____. ano 11, n. 12, p. 525-526, dez. 1868. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Constituição Transitória do Espiritismo, it. 5;
Nota de Allan Kardec, n. 56.
7 ____.
____. ano 12, n. 6, p. 250, jun. 1869. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2009. Museu do Espiritismo.
8
XAVIER, Francisco C. Lembrando Allan Kardec. Pelo Espírito Humberto de Campos.
Reformador, ano 96, n. 1.794, p. 25(293)-26(294), set. 1978.
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